Podridão Vermelha – Colletotrichum falcatum

IMPORTÂNCIA

A podridão vermelha é uma das mais antigas doenças da cana-de-açúcar tendo sido descrita em 1893 em Java.
No Brasil sempre foi considerada em associação com a broca.
A colheita de cana crua aparentemente aumentou muito a importância dessa doença.
O aumento de inóculo nos restos de cultura propiciou condições para variabilidade do patógeno através da mutação, heterocariose e reprodução sexuada, originando estirpes mais agressivas do fungo.
Existem relatos de redução de 50 a 70% no teor de sacarose.

SINTOMAS – Clique nas imagens para ampliar

Pode afetar qualquer parte vegetativa da planta porém é mais importante quando ataca os colmos. Isto porque os danos nas folhas não causam grandes prejuízos, entretanto, as lesões nas nervuras servem como fonte de inóculo para os colmos.

Os primeiros sintomas visíveis da doença é um amarelecimento das folhas do ponteiro, geralmente a 3ª e 4ª folhas à partir do ápice. Com o passar do tempo todo o ponteiro amarelece.

Na nervura central causa uma lesão vermelha que pode se estender por todo o comprimento da mesma e pode ser confirmada pelo corte transversal, mostrando avermelhamento de seu interior. Quando a parte vermelha se restringe à parte externa, a causa mais provável é deficiência de Potássio.

Essa lesão, com o tempo,torna-se esbranquiçada com pontuações pretas, que são os acérvulos do fungo. Nestes acérvulos são produzidos milhões de conídios, os quais são aglutinados por uma massa gelatinosa que inibe sua germinação e sua saída com o vento.

A ocorrência de chuvas fornece água para dissolver a citada massa gelatinosa e, usando a nervura como calha, os esporos são conduzidos até o interior da bainha, que é onde se dá a penetração, através de ferimentos de broca ou pelos primórdios de raízes.​

Em seguida ocorre a seca de todo o ponteiro da planta devido à colonização generalizada do colmo impedindo a passagem de água e nutrientes. Isto geralmente acontece no início da estação da seca, quando os colmos estão mais colonizados e o solo com menos água disponível.

Externamente no colmo nota-se inicialmente a presença de estrias longitudinais, de coloração rosada ou púrpura, partindo dos primórdios de raízes. Estas estrias podem ser vistas facilmente em colmos não muito cerosos e de coloração clara, ou raspando a cera com um canivete nos de variedades escuras.

Internamente os sintomas começam como pequenos fios vermelhos na região próxima ao nó ou a algum ferimento, especialmente orifícios causados pela broca (Diatraea saccharalis).

Áreas vermelhas se estendem ao longo dos entrenós paralisando ou reduzindo o crescimento dos colmos que ficam mais curtos e secam. Vale lembrar que se trata de uma podridão seca, portanto diferente da outra doença que apodrece colmos que é a “Estria vermelha”.

Nesses colmos forma uma lesão vermelha com “bandas” brancas transversais. Essas manchas podem variar de coloração, desde um pequeno desbotamento na cor vermelha até completamente brancas. Quanto maiores e mais claras essas bandas, mais suscetível é a variedade. Quando utilizados como muda esses colmos resultam em falhas na germinação. Também podem ocorrer falhas na brotação de soqueiras.

ETIOLOGIA
AGENTE CAUSAL:

O agente causal é o fungo Colletotrichum falcatum que corresponde, na fase sexuada, a Glomerella tucumanensis. Produz acérvulos facilmente visíveis com lupa manual. Os conídios são falcados (acanoados) e envoltos em uma massa gelatinosa. Peritécios (fase sexuada) são observados em lesões velhas e senescentes, como por exemplo nos restos de cultura.

SOBREVIVÊNCIA

A sobrevivência se dá na própria cana-de-açúcar, pois existem plantas verdes o ano todo no campo. O fungo também sobrevive nos restos de cultura, já que a colheita da cana crua deixa os restos no campo.

DISSEMINAÇÃO

Como os conídios são envoltos por massa gelatinosa o fungo necessita de água para disseminação e para dissolver essa massa que também inibe a germinação dos mesmos. Já os ascósporos são ejetados dos peritécios e atingem a corrente de ar sendo disseinados pelo vento. Não se deve esquecer a disseminação através do transporte de material contaminado como mudas e toletes.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS

A condição ideal para o desenvolvimento da doença é quando se tem um verão úmido. Nestas condições o fungo esporula abundantemente (fase assexual) e é disseminado pela chuva, chegando facilmente ao sítio de penetração no colmo (orifícios da broca e primórdios de raízes). Uma vez colhida a cana a fase sexuada ocorre nos restos de cultura e, neste caso, também precisa de chuvas para que os ascósporos sejam ejetados. Em resumo, as condições ideais para evolução da doença são as seguintes:
Umidade relativa acima de 80%.
Temperatura entre 25 e 30ºC.
Tempo encoberto com chuvas.

MANEJO

Variedades resistentes.
Há necessidade de observações locais sobre o comportamento das variedades, uma vez que não se têm estudos sobre a variabilidade do patógeno em condições brasileiras.
Antecipar a colheita.
Após o amadurecimento da cana-de-açúcar a evolução dos danos causados pela doença é mais rápida, portanto antecipar a colheita é uma forma de reduzir as perdas.
Reduzir restos de culturas.
Essa medida visa reduzir o potencial de inóculo sobrevivente Nestes restos, diminuindo infecções futuras.
Rigoroso controle de pragas.
O patógeno pode penetrar diretamente na região dos primórdios de raízes porém, os ferimentos proporcionados por pragas, facilitam muito a penetração.
Diversificação de variedades.
Como as variedades podem ter reações diferentes à doença, é muito importante ter essa diversificação, não apenas para essa, mas também para outras doenças.
Controle químico.
Não existem informações sobre controle químico no Brasil. Existe uma referência no exterior de que os produtos do grupo dos Benzimidazóis tem uma certa eficiência porém, não exitem testes no nosso país nem registro junto ao MAPA.